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Out 10

Por: Kachipepe

 

 

Eram por volta das 13 horas de uma quinta feira ensolarada. O sol fazia transpirar todos na rua, não havia muita poeira porque a terra estava molhada. Havia chovido na segunda feira, durante o dia, e chuviscado nas madrugadas de terça e quarta feira. Eu resolvi entrar no mercado do Luanda Sul ou Viana II epa, são tantos nomes novos em Luanda que muitas vezes a pessoa se confunde, mas enfim, entrei no mercado.

Logo a entrada, deparei-me com umas kinguilas a oferecer o dinheiro:

- Mano quês trocar?

- É quanto a nota?

- Stamos a pagar nove mil quinhentos.

- Han ta bom, é só pra saber mesmo, não tenho dinheiro.

A senhora não disse mais nada, mas ficou com uma cara, como quem diz: “não me chateeis pá, se não vás trocar ta perguntar porque?” A simpatia da abordagem inicial sumiu repentinamente. Ela abaixou-se levemente e voltou a sentar-se numa cadeira de plástico que estava debaixo de um guarda-sol grande e encostada no muro. Ali era seu refugio. Protegia-se do sol, que era muito quente.

Eu continuei minha caminhada e deparei-me com uma cena que não havia visto antes: Um grupo de senhoras que cantavam, batiam latas e passavam nas bancadas.

Os vendedores do mercado, todos como se fosse uma coreografia combinada, colocavam dinheiro no saco que as senhoras carregavam ou então produtos como arroz, feijão açúcar numa bacia que outras senhoras do mesmo grupo levavam na cabeça.

Será que é uma forma diferente de pedir esmola, pensei. Se for, é bem eficaz porque todos estão a contribuir. Curioso, e a fim de abandonar o terreno das inferências, resolvi perguntar a alguém o que se passava.

A senhora aquém perguntei, pacientemente me explicou que aquelas doações na verdade representavam condolência. Um colega de trabalho havia falecido, então “todos deviam contribuir, mas ninguém é obrigado”.

Em seguida ela chamou minha atenção para um detalhe que eu não tivera reparado: as senhoras carregavam a frente do grupo um quadro com a foto do rapaz.

Esclarecido que estava fui até lá e depositei uma contribuiçãozinha.

A família parecia pobre, e aquelas doações provavelmente nem seriam suficientes para agüentar o óbito. Afinal, óbito em Luanda é muito caro.

Pelo que vi, aquelas senhoras não estariam em condições de alugar um buffet para servir no óbito, como os outros fazem em Luanda. Mas também acho que os colegas não precisavam aumentar no valor da contribuição de cada um, mas talvez a solução estivesse na simplificação da cerimónia dos óbitos. Acabar com a comilança e a festa que se vê nesses eventos.

Já seria uma grande ajuda.  Porque depois do funeral as pessoas não ficam nem pra lavar os pratos.

 

 

 

 


 

publicado por beco1001 às 13:30

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