29
Out 10

Por: Kachipepe

 

 

Eram por volta das 13 horas de uma quinta feira ensolarada. O sol fazia transpirar todos na rua, não havia muita poeira porque a terra estava molhada. Havia chovido na segunda feira, durante o dia, e chuviscado nas madrugadas de terça e quarta feira. Eu resolvi entrar no mercado do Luanda Sul ou Viana II epa, são tantos nomes novos em Luanda que muitas vezes a pessoa se confunde, mas enfim, entrei no mercado.

Logo a entrada, deparei-me com umas kinguilas a oferecer o dinheiro:

- Mano quês trocar?

- É quanto a nota?

- Stamos a pagar nove mil quinhentos.

- Han ta bom, é só pra saber mesmo, não tenho dinheiro.

A senhora não disse mais nada, mas ficou com uma cara, como quem diz: “não me chateeis pá, se não vás trocar ta perguntar porque?” A simpatia da abordagem inicial sumiu repentinamente. Ela abaixou-se levemente e voltou a sentar-se numa cadeira de plástico que estava debaixo de um guarda-sol grande e encostada no muro. Ali era seu refugio. Protegia-se do sol, que era muito quente.

Eu continuei minha caminhada e deparei-me com uma cena que não havia visto antes: Um grupo de senhoras que cantavam, batiam latas e passavam nas bancadas.

Os vendedores do mercado, todos como se fosse uma coreografia combinada, colocavam dinheiro no saco que as senhoras carregavam ou então produtos como arroz, feijão açúcar numa bacia que outras senhoras do mesmo grupo levavam na cabeça.

Será que é uma forma diferente de pedir esmola, pensei. Se for, é bem eficaz porque todos estão a contribuir. Curioso, e a fim de abandonar o terreno das inferências, resolvi perguntar a alguém o que se passava.

A senhora aquém perguntei, pacientemente me explicou que aquelas doações na verdade representavam condolência. Um colega de trabalho havia falecido, então “todos deviam contribuir, mas ninguém é obrigado”.

Em seguida ela chamou minha atenção para um detalhe que eu não tivera reparado: as senhoras carregavam a frente do grupo um quadro com a foto do rapaz.

Esclarecido que estava fui até lá e depositei uma contribuiçãozinha.

A família parecia pobre, e aquelas doações provavelmente nem seriam suficientes para agüentar o óbito. Afinal, óbito em Luanda é muito caro.

Pelo que vi, aquelas senhoras não estariam em condições de alugar um buffet para servir no óbito, como os outros fazem em Luanda. Mas também acho que os colegas não precisavam aumentar no valor da contribuição de cada um, mas talvez a solução estivesse na simplificação da cerimónia dos óbitos. Acabar com a comilança e a festa que se vê nesses eventos.

Já seria uma grande ajuda.  Porque depois do funeral as pessoas não ficam nem pra lavar os pratos.

 

 

 

 


 

publicado por beco1001 às 13:30

12
Out 10

 Por: Kachipepe

 

Era um domingo por volta das 12 horas. Eu estava no Luanda Sul e precisava desesperadamente chegar ao bairro popular, no máximo em uma hora.

Não havia carona. De dinheiro no bolso, apenas 50 Kzs, em moedas metálicas, e uma nota de 5 dólares, novinha em folha.

 


 

Eu precisava chegar ao bairro popular de qualquer jeito para não perder um encontro importante. Os meus amigos já haviam ligado e eu dissera que estava a espera do taxi, e que em uma hora estaria no bairro popular. Caso eu não chegasse no horário combinado, podiam bazar e nem precisavam me entregar os 200 dólares.

Tentei esperar por um autocarro, mas demoravam muito, desisti da idéia. Apareceu um Candongueiro a chamar: “stalagem, stalagem...”. Rapidamente eu pensei, ‘se ele me levar até lá e me der um trocado qualquer, estarei no lucro’. Na cara dura, mandei parar. Antes de subir, expliquei ao cobrador que tinha apenas 5 dólares, perguntei se ele podia me levar e dar um troco já que eu precisava chegar ao bairro popular e não levava mais nenhum dinheiro.

O cobrador olhou-me de cima pra baixo, olhou pro motorista, que repetiu o gesto. Senti-me meio mal, mas não desisti. Não havia outra saída. O cobrador não disse nada, mas fez um gesto como que autorizando meu embarque. Não hesitei e subi carregando a minha mochila.

Quando estávamos a chegar no ponto final da viagem, o cobrador já estava a cobrar de todo mundo. Quando chegou a minha vez ele passou sem dizer nada. Pensei: “esses, gajos decidiram não cobrar me cobrar, que benção meu Deus!”

Estava enganado. Depois que cobrou de todos os passageiros, olhou pra mim e disse: “passa a massa”. Entreguei os 5 dólares. A nota era nova e valia aproximadamente 450 kzs. Ele olhou, olhou de novo e disse pro motorista;

- acho que essa nota é falsa.

 O motorista olhou pro cobrador, caprixou no mixoxo:

- quem é que vai se dar o trabalho de falsificar notas de 5 dólares, você burro ó quê?

O cobrador não disse nada. Pegou em 200 kzs e me deu de troco. Quando fui pegar no dinheiro ele falou sério, como que para inibir qualquer pergunta:

- o kota sabe que ninguém te troca 5 dólares na rua né?

Recebi o dinheiro sabendo que minha viagem tinha ficado pelo menos 150% mais cara. Mas como o objetivo principal estava a ser cumprido não reclamei.

Desci do carro e embarque em outro que me deixou no bairro popular dentro do tempo estipulado,incríveis 54 minutos. Não havia engarrafamento.

 

 

publicado por beco1001 às 16:02
sinto-me:
música: tchill to night - Boyz II Men

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